Luís Rocha / Fevereiro 17, 2015 in funchal noticias
O curador independente Luís Guilherme de Nóbrega, antigo responsável pela programação das artes plásticas no Centro das Artes Casa das Mudas, é o mentor de um novo projecto intitulado ‘Exit Artistas’ (EA).Trata-se de uma empresa que está a constituir e que, nas suas próprias palavras, “pretende ser um suporte de promoção da criação artística totalmente independente e de domínio privado, quer na forma de trabalhar, quer ao nível dos seus parceiros financeiros”. A ideia é aproximar artistas madeirenses de instituições de apoio às artes visuais, curadores e exposições sediadas em Portugal ou no estrangeiro.
A ideia surge da constatação, por Luís Guilherme, actualmente professor numa escola da Ponta do Sol, de que na realidade artística madeirense, ao longo dos últimos 40 anos, poucos artistas conseguem ser elegíveis no panorama da arte internacional, como consequência de “uma política cultural rudimentar e muito focada na dimensão local”.
A EA trabalhará, à semelhança de outras organizações de promoção de artistas no espaço internacional, estabelecendo parcerias com organizações que possam potenciar a partilha de experiências e projectos de residências artísticas, “seleccionando sempre artistas que considera serem potenciais criadores” prometedores.
Luís Guilherme propõe-se utilizar os contactos estabelecidos ao longo de dez anos, com “curadores, artistas, galerias de arte e instituições artísticas de elevada qualidade e reconhecimento mundial”.
Num comentário ao estado actual da cultura na Madeira, Luís Guilherme considera que a mesma é diversificada e rica, mas que nunca teve mentores à altura, que soubessem, em primeiro lugar, “catalogar e diferenciar as múltiplas manifestações por forma a poder desenvolver um suporte de promoção turística sem precedentes”.
Na sua perspectiva, vive-se ainda numa sociedade onde a cultura é refém de interesses políticos, religiosos e económicos. Isso faz com que uma verdadeira estratégia cultural não seja adoptada, optando-se por uma “falsa preservação de patrimónios que não são totalmente públicos, mas que são financiados por dinheiros públicos”.
“Esta visão de quem está responsável pela cultura leva a que muitas das áreas afins sejam colocadas de parte e inclusivamente que se deixem degradar determinados investimentos culturais de grande potencial artístico e turístico-cultural para beneficiar determinadas pessoas, em vez de se pensar em beneficiar a nossa ilha como potencial destino cultural”. Algo que, entende, “só é possível com programações coerentes e com linhas de pensamento universal”.
“Olhando para o nosso panorama cultural”, sublinha, “apercebemo-nos que salvaguardamos muito do nosso passado. No entanto, não estamos a construir a nossa identidade actual, que necessita existir para que possamos competir de forma idêntica com o que está a acontecer nível global”.
“Ironicamente”, constata, “o único museu da Madeira que tem vindo a apresentar um acentuado número de visitantes é o Museu do Cristiano Ronaldo, que mostra e muito a importância de um bom marketing para atrair públicos”.
“Naturalmente que neste exemplo, o próprio fenómeno associado ao jogador influi positivamente na afluência a este espaço. No entanto, não vi até hoje nenhum dos nossos espaços culturais com estratégias assentes em estudos de mercado em relação ao turismo que nos visita”, conclui.